Em recente declaração, N.R. Narayana Murthy, magnata bilionário e co-fundador da gigante de software Infosys, afirmou que os jovens indianos devem trabalhar 70 horas por semana para transformar o país em uma potência econômica global.
Murthy, cujo patrimônio ultrapassa os US$ 4 bilhões segundo a Forbes, enfatizou que a Índia necessita de jovens “com determinação acima da média, extremamente disciplinados e dedicados”, incentivando uma jornada de 70 horas de trabalho semanal.
Se for dividir em cinco dias úteis, seria necessário trabalhar 14 horas por dia, em seis dias úteis, pouco mais de 11 horas por dia, ou dez horas todos os dias da semana.
Como justificativa para sua opinião polêmica, o bilionário citou o empenho pós-guerra de países como Alemanha e Japão como exemplo, em uma conversa com Mohandas Pai, ex-CFO da Infosys, disponibilizada no YouTube.
Além de sua notoriedade no mundo dos negócios, Murthy é também conhecido por ser sogro do primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak.
Trazendo uma crítica construtiva, Murthy pontuou que muitos jovens na Índia adotam hábitos ocidentais que não contribuem para o crescimento do país, citando a produtividade indiana como uma das mais baixas globalmente.
Reforçando sua visão, o bilionário sugeriu que se deve observar e aprender com políticas de outros mercados emergentes, dando destaque especial à China. Além disso, ressaltou a necessidade de líderes empresariais inspirarem os jovens a “dar o seu máximo”, destacando o respeito recentemente adquirido pela Índia no cenário global.
A visão de Murthy gerou debates nas redes sociais. Pesquisas recentes revelam que muitos indianos se veem como alguns dos profissionais mais sobrecarregados e menos valorizados em termos salariais no mundo.
Fora do país a ideia de trabalhar 70 horas semanais também não foi muito bem recebida.
Provavelmente, Murthy teve a melhor das intenções ao dar tal sugestão e talvez ele próprio tenha trabalhado ou ainda trabalhe um número excessivo de horas. Mas é necessário levar em conta que o mundo vem passando por uma transformação na qual muitas pessoas estão se perguntando:
– O quanto vale cada hora da minha vida? O que eu vou levar dessa vida? O que é real nessa vida?
Vale lembrar que na China, os jovens se revoltaram contra a cultura de trabalho excessivo do país e inauguraram uma nova filosofia de vida na qual deixam seus empregos, onde se sentem explorados, e fazem até festas de demissão.
Vários países do ocidente fazem testes para implantar um sistema de quatro dias de trabalho e três de descanso.
E os EUA também lançaram uma nova tendência que acabou se tornando um fenômeno mundial: a ‘demissão silenciosa’. Que pode ser resumida em trabalhar apenas o necessário para sua função e eliminar a ideia de fazer mais do que se espera.
Aquele velho discurso de vestir a camisa parece não estar pegando as novas gerações. Alguém precisa avisar aos bilionários que os jovens não querem trabalhar até morrer para sustentar um pequeno número de bilionários que vivem como uma casta sagrada sobre todos os outros seres humanos da Terra.